Abstract
De alguns anos para cá, nota-se o aumento da participação do público LGBTQIA+ nas produções culturais como um todo. Na literatura, isso é percebido não só no aumento de publicações de escritoras e escritores pertencentes a essa comunidade, mas também no crescente interesse das editoras e de profissionais da escrita em traduzir obras estrangeiras que a representem. Esse crescimento, no entanto, nem sempre corresponde à participação igualitária dessa comunidade na sociedade e muito menos à redução das violências contra esse grupo. Em muitos países de língua francesa, mesmo que os direitos reservados à população LGBTQIA+ sejam assegurados pelas vias legais, não é raro que o desejo por uma vida em outro lugar apareça como um caminho rumo à liberdade. O presente artigo propõe reflexões acerca das escolhas tradutórias de um romance que tematiza tal desejo: Un ailleurs à soi, da escritora haitiana Emmelie Prophète. Publicado em 2018, o romance apresenta o relacionamento amoroso entre duas mulheres em Porto Príncipe e o desejo quase generalizado de seus habitantes pela diáspora. Aqui, é apresentado o papel que a escrita de mulheres e a tradução feminista podem desempenhar para a ruptura dos silêncios que circundam mulheres que amam mulheres em realidades opressoras. Considerando o aumento de obras que centralizam a realidade de grupos sócio-historicamente excluídos, acredita-se que a tradução e discussão de tal romance no contexto brasileiro atual possam contribuir para a participação da comunidade LGBTQIA+ na sociedade, auxiliando no aumento da visibilidade e da inclusão da comunidade.
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