Abstract

A infância é um tema literário que se faz presente no Neorrealismo português, simultaneamente demonstrando a exploração do trabalho e o índice de esperança expresso por meio de personagens em formação; ou seja, símbolos de um futuro redentor. Personagem recorrente em tal contexto é a do menino que, constrangido por uma situação econômica adversa, vê-se força a abandonar as brincadeiras e, sobretudo, a escola para se converter em arrimo familiar. É, precisamente, o que se verifica nos contos «Arte», de Afonso Ribeiro, e «Rumo», de Romeu Correia; integrados, respectivamente, aos livros Povo (1947) e Sábado sem Sol (1947). Na leitura dos dois contos, observa-se a figuração da infância no nível narrativo e em que medida assume condição capital para a compreensão do projeto literário do movimento e dos autores contemplados. Ao representar a personagem adolescente de baixa extração social e as mudanças por que esta tem de passar, os ficcionistas revelam a face mais dura da realidade portuguesa durante o Estado Novo. Ao mesmo tempo em que se aproximam de fatores centrais da estética neorrealista, os autores demonstram, pela justeza com que são construídas as narrativas, a capacidade de aliar o individual o coletivo, o interno e o externo, em retratos da infância que fundamentam a redescoberta de sua Literatura.

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