Abstract

O declínio democrático em vários países latino-americanos tem acompanhado o crescimento da força de setores religiosos. Este texto objetiva interpretar a presença pública das igrejas cristãs e de seus representantes políticos com base na tradução como processo hermenêutico que observa o modo das relações entre religião e espaço público. Por meio de uma análise bibliográfica, identifica-se na aplicação da hermenêutica ricoeuriana no campo de estudos da religião a possibilidade de interpretação das traduções concretas intersubjetivas e intercontextuais presentes no espaço público em duas frentes: numa dinâmica intralinguística, a saber, a relação entre grupos cristãos que possuem convergências suficientes para uma ação programática em pautas morais e econômicas; e numa dimensão interlinguística que pode ser observada na relação entre grupos religiosos e modelos democráticos elitistas cujo constante estado de crise não deixa de ser benéfico para determinados setores. A metáfora das religiões como idiomas, também permite a identificação de incompatibilidades hermenêuticas entre distintos discursos teológicos no espaço público mesmo quando oriundos da mesma tradição. Percebe-se, portanto, que a tradução como processo hermenêutico de análise de discursos teológicos pode se consolidar como mais uma ferramenta no campo de estudos das relações entre religião e espaço público.

Highlights

  • Democratic decline in various Latin American countries has been accompanied by religious sectors growth

  • This article aims at interpreting the public presence of Christian churches

  • their political representatives based on translation as hermeneutical process

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Summary

A hermenêutica da tradução aplicada aos estudos da religião

A tradução é um tema da filosofia de Paul Ricoeur (1913-2005) que, apesar de ser trabalhada em outros momentos, somente aparece de modo mais sistematizado tardiamente. Dossiê: Fundamentalismos e Democracia – Artigo Original: A tradução fundamentalista: equivalências hermenêuticas entre teologias exclusivistas e modelos democráticos elitistas reconhecimento dos limites da tradição religiosa a que se pertence deve ser vista como uma oportunidade para aprender que nenhuma perspectiva domina a realidade toda, que múltiplas perspectivas proveem um quadro mais adequado de contextos específicos, e que aqueles e aquelas que estão mais vulneráveis em determinada realidade devem ser protagonistas na análise de suas situações Entretanto, ao indicar o caminho da análise das traduções concretas da fé cristã para o espaço público, Dreyer nos leva a questionar acerca da possibilidade de se pensar a tradução também por meio do polo exclusivista. Não nos parece o caso de nomear perspectivas exclusivistas como incapazes de tradução, mas, por meio da detecção das traduções concretas, tentar entender que tipo de traduções são essas. Colocadas estas reflexões de fundo, adiante nos ocupamos da análise da tradução existente entre modelos democráticos elitistas e modelos teológicos exclusivistas

As democracias em crise e os modelos teológicos exclusivistas5
Crise de representação
Regimes híbridos e democracias deficitárias: uma zona cinzenta
O assédio teocrático
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