Abstract

A partir de inquéritos nutricionais probabilisticos realizados nas três últimas décadas foram estabelecidas tendências passadas e recentes da prevalência da obesidade (IMC ³ 30 kg/m²) na população adulta da menos desenvolvida (Nordeste) e da mais desenvolvida (Sudeste) região brasileira. No primeiro período de observação (1975-1989), a evolução da obesidade foi ascendente e relativamente uniforme nas duas regiões, com o que não foram alterados o predomínio da enfermidade na Região Sudeste e a tendência de que, dentro das duas regiões, os estratos mais pobres apresentassem-se menos vulneráveis à obesidade. Esse foi também o quadro observado para a população masculina no segundo período de estudo (1989-1997), exceto pelo aumento mais intenso da obesidade na Região Nordeste e pela conseqüente diminuição das diferenças entre as duas regiões. A evolução da obesidade feminina no período 1989-1997 mostrou-se distintamente influenciada pela renda familiar nas duas regiões. Na Região Nordeste, o aumento da obesidade foi modesto para as mulheres mais pobres e intenso para os estratos intermediários e de alta renda. Na Região Sudeste, houve declínio na prevalência da obesidade para os estratos intermediários e de alta renda e aumento intenso para as mulheres mais pobres. Esse padrão socialmente diferenciado da evolução regional da obesidade fez com que, em 1997, o risco da obesidade feminina na Região Nordeste apenas se mantivesse inferior ao da Região Sudeste entre as mulheres mais pobres. Pela magnitude dos contrastes chamou particular atenção a evolução recente da obesidade nos estratos que correspondem aos 25% das mulheres mais ricas de cada região: ascensão dramática no Nordeste - 9,9% para 14,6% -, declínio não menos notável no Sudeste - 13,2% para 8,2%. A tendência de declínio da obesidade documentada para mulheres que vivem na Região Sudeste do país é inédita em países em desenvolvimento, tendo sido, de fato, documentada, até o presente, apenas em populações escandinavas. Embora análises mais aprofundadas sejam necessárias, mostra-se plausível a hipótese de que atividades educativas veiculadas por meios de comunicação de massa possam ter tido um papel relevante no recente declínio da obesidade documentado no Sudeste brasileiro.

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