Abstract

Uma velha questão, que remonta aos tempos de Adorno, refere-se à possibilidade da televisão vir a ser um espaço de experimentação e criatividade. O programa italiano Cinico TV, de Ciprì e Maresco, dá uma resposta radical a essa pergunta. Sem fazer nenhuma concessão aos padrões institucionais e industriais da televisão, Cinico traz à cena, num preto e branco lúgubre, um mundo que parece o day after de uma hecatombe nuclear, habitado por uma galeria de personagens absurdos, um tanto escatológicos, com um sotaque siciliano e plebeu quase ininteligível, num cenário de ruínas, dejetos e prédios inacabados e abandonados. O programa é concebido como uma intervenção pirata na televisão. O artigo discute a decadência da televisão italiana e a resposta vital que lhe dá Ciprì e Maresco. Cinico TV foi uma demonstração de que a televisão pode ser outra coisa, pode arriscar-se em direção a um audiovisual de insubmissão ao gosto padronizado, um audiovisual de expressão de inquietudes não catalogadas, de modo a provar que há também vida inteligente na tela pequena.

Highlights

  • Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

  • that returns to the times of Adorno

  • to the possibility of television turning out to be a space of experimentation and creativity

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Summary

Introdução

A televisão é normalmente praticada e pensada como o lugar por excelência do entretenimento leve e descompromissado, o espaço do espetáculo pueril, em geral voltado a um cotidiano anódino, diante do qual o cidadão comum pode relaxar-se depois de um dia ou uma semana de trabalho duro. Esse canal se dedicou principalmente à realidade siciliana, mas para sobreviver, uma vez que não era uma televisão pública, nem estava na rota dos grandes anunciantes, mantinha vários programas de tele-vendas (daí o nome Televideo Market). Foi nesse canal que Ciprì e Maresco, ambos nascidos em Palermo, puderam realizar seus primeiros experimentos com televisão, através de programas dirigidos a jovens, emissões de jazz (uma paixão dos dois) e até mesmo paródias dos programas de tele-. Em 1990, os jornalistas Didi Gnocchi e Mimo Londezzo, que realizavam um programa para a RAI-UNO, Isole Comprese (Ilhas Comprimidas), uma espécie de censo geográfico da Itália, mas também uma viagem através das televisões livres italianas, interessaram-se pelas emissões de Ciprì e Maresco no canal TVM e os convidaram a participar do programa. Cada vez que chegava um cassete, o pessoal da produção de Blob tremia nas pernas, só de imaginar o que poderia estar chegando!

Pobre Sicília
Dois cinéfilos na televisão
Os protagonistas principais
Considerações finais
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