Abstract

Neste trabalho, o objetivo é discutir sobre a repetição de vocábulos na escrita por mãos inábeis, a partir de um corpus constituído por cartas pessoais de sertanejos baianos (1906-2000), redatores em fase inicial de aquisição da escrita, cuja edição está disponibilizada em Santiago (2011; 2012). A repetição é uma das dimensões da inabilidade em escrita alfabética proposta por Barbosa (2017), para a caracterização de corpora históricos. Nas cartas dos sertanejos, a presença dessa dimensão é mais um indício de que são textos espontâneos, sem planejamento e revisão, coincidindo, na escrita dos mais inábeis, com outras características, como os aspectos relacionados à escriptualidade (desconhecimento de convenções do padrão gráfico); a presença de uma escrita fonética e a pouca habilidade no plano motor, o que pode indicar um maior distanciamento aos modelos da escrita convencional. Em textos desse tipo, os redatores transferem para o registro escrito mecanismos de coesão e coerência comuns à oralidade, e os segmentos repetidos podem estar expressando funções semelhantes às da gramática da língua oral, como demonstram estudos como o de Dutra (2003), em dados de redações infantis, e o de Marcuschi (1996), com dados orais. Para melhor compreender algumas motivações que originaram as repetições pelos redatores das cartas, os exemplos são distribuídos de acordo com as possíveis funções que estejam manifestando, à luz das funções básicas já identificadas para textos orais: no plano textual, as relações de coesividade, e, no plano discursivo, as relações de compreensão, continuidade tópica, argumentatividade e interatividade.

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