Abstract

A prescrição e a ampla aceitação do uso de antipsicóticos clássicos e atípicos na infância e na adolescência, foi reivindicada aduzindo a suposta função terapêutica e curativa dessas drogas. Tomando como ponto de partida a distinção de dois modelos explicativos de ação dos psicofármacos, um centrado na doença e outro centrado na droga, analiso de que modo a indústria farmacêutica contribuiu, com suas estratégias publicitárias, à divulgação de uma narrativa triunfalista que naturalizou o uso de antipsicóticos como cura para doenças psiquiátricas. Os dois psicofármacos analisados são a clorpromazina, um antipsicótico clássico, e a risperidona, um antipsicótico atípico de última geração.

Highlights

  • O modelo centrado na doença e o modelo centrado na drogaProponho analisar aqui o alcance de dois modelos explicativos da ação das drogas psiquiátricas identificados por Joanna Moncrieff (2008)

  • A prescrição e a ampla aceitação do uso de antipsicóticos clássicos e atípicos na infância e na adolescência foi reivindicada aduzindo a suposta função terapêutica e curativa dessas drogas

  • Drug use hailed in mental cases

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Summary

O modelo centrado na doença e o modelo centrado na droga

Proponho analisar aqui o alcance de dois modelos explicativos da ação das drogas psiquiátricas identificados por Joanna Moncrieff (2008). Se adotarmos o modelo centrado no fármaco, é possível explicar a ação dessa substância, já não a partir de um desequilíbrio restaurado, mas a partir da ideia de que o álcool provoca uma ligeira intoxicação, a qual nos faz sentir mais leves e alegres, menos inibidos ou tímidos, fatos esses que facilitam a interação social (MONCRIEFF, 2013a). De acordo a autores como Breggin (1991, 2008), Moncrieff (2008, 2013a, 2015, 2017) ou Whitaker (2010, 2015), dentre outros, os neurolépticos produzem um estado de deficiência de dopamina no cérebro que pode ser útil para controlar os sintomas graves da psicose, tais como excessivos movimentos involuntários, alucinações etc. Isso pode levar a esquecer de que a ação dos neurolépticos está indissociavelmente vinculada à apatia, ao aplanamento emocional e à redução das capacidades mentais, na medida em que eles “[...] agem como uma camisa de força com efeitos sobre a conduta e os processos mentais” Considerando esses efeitos provocados pelos antipsicóticos, proponho analisar de que modo, ao longo desta história que se inicia e 1954, a indústria farmacêutica divulgou a suposta eficácia terapêutica dos neurolépticos, particularmente da clorpromazina

A indústria farmacêutica e a insistência no modelo centrado na doença
O Antipsicóticos e psicofarmacologização da infância
Risperidona e o controle dos comportamentos na infância
A modo de conclusão
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