Abstract

Observando as indicações de Erwin Panofsky (1955) sobre o modo pelo qual uma obra de arte pode ser interpretada, este artigo propõe uma aproximação entre o livro de fotomontagens A pintura em pânico (1943), do poeta Jorge de Lima (1893-1953), e o conceito de pós-modernidade desenvolvido por Gianni Vattimo em A sociedade transparente (1989). Para tanto, contextualiza-se a fotomontagem de vanguarda como uma subversão do próprio princípio fotográfico enquanto análogo da realidade, e ainda como uma afronta à pintura enquanto método canônico de composição pictórica. Recorre-se ainda, à aproximação estabelecida por Gianni Vattimo entre os conceitos de shock em Walter Benjamin (1955), e o stoss de Martin Heidegger (1977), para sugerir que a fotomontagem transcendeu o periodo no qual surgiu e funciona como uma espécie de analogia à condição pós-moderna, que é, sobretudo, multiforme.

Highlights

  • Segundo Panofsky (2014, p.23), o homem distingue-se fundamentalmente dos outros animais por ser capaz de registrar sua existência material, intencionalmente, através da expressão de lembranças e percepções1, ou seja, o registro de si

  • Desta premissa resultam os dois postulados intrínsecos à atitude humanista, que são, justamente, a responsabilidade e a tolerância. (IDEM, p.21) As proposições de Panofsky sobre o modo pelo qual se pode investigar e analisar uma obra de arte têm fundamento na referida atitude humanista, e propõe, a quem pretenda interpretar uma obra, a adoção de uma atitude cautelosa mediante os inevitáveis obstáculos aos quais estão sujeitas as investigações de qualquer espécie de documento. (IDEM, p. 26-27) Em vista disso, o método iconológico propõe, através da identificação dos motivos e conceitos de uma obra, a aproximação do contexto no qual ela se insere, possibilitando, assim, a identificação daquilo que Cassirer chamou de “valores simbólicos”

  • No contexto específico do Surrealismo, a presença de Max Ernst (1891-1976) foi de suma importância para a incorporação e adaptação da fotomontagem aos ideais do movimento, já que o francês de origem alemã havia participado efetivamente do dadaísmo e estudado filosofia e psiquiatria3, matérias essas que constituem alguns dos pilares do movimento teorizado por André Breton (1896-1966)

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Summary

INTRODUÇÃO

Segundo Panofsky (2014, p.23), o homem distingue-se fundamentalmente dos outros animais por ser capaz de registrar sua existência material, intencionalmente, através da expressão de lembranças e percepções, ou seja, o registro de si. Propõe-se aqui, observando as indicações de Panofsky, uma aproximação que nos foi suscitada justamente a partir do referido método, no sentido de situar o livro de fotomontagens do poeta Jorge de Lima (1893-1953), A pintura em pânico (1943) (Fig.1), pela técnica e teoria que lhes são inerentes, como análogo à consciência pós-moderna, tal como conceituada pelo filósofo italiano Gianni Vattimo. É importante mencionar que a reprodução integral das fotomontagens através da exposição realizada pela Caixa Cultural, bem como em catálogo, possibilitou maior aproximação do público com esta que é uma das grandes produções artísticas do Modernismo brasileiro e, ainda, um documento de grande importância no contexto da obra de Jorge de Lima

A PINTURA EM PÂNICO E A FOTOMONTAGEM
A PÓS-MODERNIDADE
UM EVENTUAL AGRUPAMENTO DAS IMPRESSÕES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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