Abstract
Desde o tratado de Tractado de Cãto Llano de Mateus de Aranda em 1533 até ao final do século xix, os tratadistas musicais portugueses procuraram incluir aspetos da poética nas respetivas obras teóricas. Entre outros aspetos, identificaram sequências rítmicas resultantes da utilização do metro, procedimento que António Fernandes designava, em 1626, de «música métrica». Vários outros tratadistas musicais evidenciaram a preocupação em adequar a música ao texto, incitando os compositores a uma «poética musical», isto é, ao conhecimento dos pés poéticos e à adaptação da partitura aos respetivos metros. É o que preconiza, por exemplo, Eugénio de Almeida no seu Tratado de Melodia de 1868 com exemplos de pés poéticos transcritos para pauta. Alguns tratadistas sugerem ainda analogias muito diretas entre o poeta e o músico, tal como Jerónimo Cardoso que, no Dictionarium Latino Lusitanicum de 1570, define «Musicus, i» da seguinte forma: «Ho musico, ou poeta». Evidenciar‑‑se‑‑ão também pontos de contacto entre poética e música, através de paralelismos, comparações, referências ou apropriação, abordando ainda o conceito de «música poética».
Highlights
As ligações simbióticas entre a poética e a música relevantes já no período arcaico (‐750 a ‐480) culminam numa forma de expressão que será designada no período helenístico como “poesia lírica”, também muitas vezes apelidada de música mélica1
they identified rhythmic sequences resulting from the use of the meter
Several other musical writers showed a concern to adapt the music to the text
Summary
Nas Artes de música portuguesas é possível encontrar alusões a uma origem comum da poética e da música. A música encontra‐se ligada à poesia desde a sua origem, e a presença de terminologia poética ou as alusões à poesia lírica nas obras musicais são muito frequentes. António Fernandes explicita da seguinte forma a origem da «Musica metrica»: Assi que nam das letras, mas do som da voz vem a nascer a Musica Metrica: porque acompanhandoa com o som dos artificiais instrumentos se forma o Metro, como antigamente o faziam os Poetas Lyricos, que ao som da Lyra ou da Cytara cantavam os seus versos: donde igualmente os Poetas & os seus versos cantados vinham a chamarse Lyricos; & porque assi do principio andavam pouco & pouco buscando acompanhar os versos com harmonia ao som da Lyra, ou da Cythara, he opiniam de muitos que os dittos acharam as leys ou regras dos versos os quais se chamam Metricos. Ignacio Solano salienta a equivalência entre poetas e músicos, facto que o tratadista justifica recorrendo a uma inusitada progressão de noções: Os antigos Philarmonicos chamavão Musicos aos Poetas, o que bem considerado, as Rimas, e Poezia não são outra cousa do que versos; os versos, cadencias, ou clausulas; as clausulas, consonancias; as consonancias, números
Talk to us
Join us for a 30 min session where you can share your feedback and ask us any queries you have