Abstract

O artigo aborda a disseminação das apostas em loterias durante as últimas décadas do século XIX no Brasil. Em especial, trata da primeira extração da Loteria de São Paulo, cujo objetivo era arrecadar fundos para a construção do Monumento do Ipiranga, no ano de 1880. Em um segundo momento, discute o empenho dos escravizados nas apostas de loterias como meio de amealhar recursos para financiar sua própria liberdade. Neste particular, descreve a trajetória do grupo de trabalhadores pelotenses que foi contemplado com o primeiro prêmio da Loteria do Ipiranga, cuja extração ocorreu em fevereiro de 1881, e analisa as consequências que a sorte na loteria trouxe à vida dos contemplados. Eles formavam um grupo misto de oito trabalhadores, separados por cor, gênero e posição social, que compreendia quatro homens e quatro mulheres; quatro brancos e quatro afrodescendentes; cinco livres, uma liberta e duas cativas. Apesar destas diferenciações, suas histórias guardam muitos pontos de semelhança entre si, com relação ao uso do dinheiro e a forma como eram tratados pela sociedade da época.

Highlights

  • - Ganhava pelo officio Os meus dez tostões por dia; Por ambição ou mania, Se antes não foi malefício, História (São Paulo) v.33, n.1, p. 195-233, jan./jun. 2014 ISSN 1980-4369

  • O propósito é descrever as principais formas de apostas e loterias existentes e avaliar o impacto que trouxe para a vida cotidiana, naqueles anos, essa modalidade de jogo de azar que influenciou o desenvolvimento de formas organizativas populares e mexeu com o imaginário da época, especialmente nas camadas mais pobres da sociedade, como na dos trabalhadores livres ou ainda escravos

  • Se descreverão a introdução das loterias no País e a situação a elas referente, em Pelotas, uma das cidades em que mais se desenvolveu a atração pela novidade, caracterizandose um verdadeiro modismo em apostas de loterias por volta da década de 1880

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Summary

As loterias no Império

Para que possamos compreender como ganhar na loteria se tornou um sonho de milhares de brasileiros nas últimas décadas do século XIX, deve-se primeiro entender como era seu funcionamento. Esta loteria tornou-se um fenômeno nacional, incendiou a imaginação popular de tal forma que, segundo o pelotense Correio Mercantil, cerca de seis milhões de pessoas em todo o País teriam interesse nela, com apostas feitas diretamente ou como parte de algumas das muitas sociedades existentes para este propósito. Acrescenta-se a este quadro que, cerca de uma semana depois do sorteio do Ipiranga, outra loteria – essa, de Porto Alegre – contemplou, com montante apreciável, um número que fora vendido em Pelotas, pelo que aquele foi o mês mais animado da cidade em muitos anos.. Geralmente, os próprios anúncios procuravam destacar a segurança do empreendimento e exaltar ao máximo as possibilidades de ganhos, como este de um jornal de Rio Grande: Loteria Geral da Corte [...] garantida pelo governo imperial: Chama-se a atenção para esta decente loteria, em que com o pequeno número de 6.000 bilhetes pode qualquer cidadão obter a importante soma de Rs 20:000$000. Não deixava de ser uma forma rápida de alforria, pois um dispêndio mínimo poderia trazer, caso o número fosse contemplado, a quantia suficiente para a libertação e talvez um pouco mais

As sociedades de apostas
Os trabalhadores cativos e as loterias
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