Abstract

A “Campanha do Bom Gosto” foi colocada em marcha por António Ferro, director do Secretariado de Propaganda Nacional, em 1940, no seguimento das Comemorações Centenárias então realizadas, constituindo uma iniciativa cultural cujo propósito assumido era o de criar uma consciência estética entre os portugueses. Abarcando intervenções e iniciativas muito diversas, procurou instituir um modelo estético que criasse uma fachada para a Nação, apresentando-a como um país civilizado, por oposição a um país de revoluções, simultaneamente moderno e tradicional. Este artigo procura analisar essa campanha, fruto de um contexto político autoritário e ditatorial, o Estado Novo, saber quais as suas origens, formatos e intenções e descobrir que marcas deixou no Portugal democrático do século XXI e na sua identidade.

Highlights

  • The “Good Taste Campaign” was set in motion by António Ferro, director of the National Propaganda Bureau, in 1940, following the Centenary Commemorations, constituting a cultural initiative whose assumed purpose was to create an aesthetic awareness among the Portuguese people

  • Estas iniciativas assumiram em geral a forma de concursos, destacando-se, a título exemplificativo: o Concurso das Estações Floridas; o Concurso de Montras; o Concurso da Casa Panorama; o Concurso de Tintas e Flores

  • E embora o galo de Barcelos se tenha tornado o símbolo de Portugal mais popular, não é, de todo, o único resultado deste período fértil de criação artística: os bonecos de barro de Estremoz e a olaria de Barcelos, os tapetes de Arraiolos, as colchas de Castelo Branco, o traje feminino de Viana do Castelo, os pauliteiros de Miranda, entre muitos outros, foram então (re)criados, estilizados e mercantilizados como produtos identitários da Nação portuguesa.Tal permitiu a materialização de uma ideia de Portugal afecta ao regime, mas coadunando-se igualmente com a visão de Portugal de António Ferro, de um país em simultâneo moderno e tradicional

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Summary

António Ferro e o Secretariado

António Ferro (1895-1956) é uma figura incontornável do Estado Novo, constituindo uma das suas personagens mais complexas, paradoxais e marcantes. Pela sua acção à frente deste organismo, que se constituiu como a génese de um Ministério da Cultura, Ferro revelou-se uma peça-chave na legitimação das políticas e práticas culturais do regime, subordinadas ao interesse supremo da Nação, ao longo de mais de década e meia de acção, entre 1933 e 1949, como destaca José Rebelo: “Ao transferir-se do jornalismo para a condução da propaganda do regime, António Ferro põe ao serviço da nova causa que abraça a mesma inteligência, o mesmo entusiasmo, a mesma vasta cultura e a mesma enorme capacidade de relacionação” Para a consecução deste grande objectivo, tornou-se necessária a mobilização de todo o leque das actividades culturais – arte, imprensa, teatro, literatura, radiodifusão, cinema – através da sua famosa “Política do Espírito”

A “Política do Espírito”
A “Campanha do Bom Gosto”
A “Campanha do Bom Gosto” no Porto: o Maio Florido
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