Abstract

Mais de cinco milhões de pessoas por ano, em Fátima, fazem do santuário um dos mais concorridos do mundo. Há 100 anos, três crianças contaram que viram a mãe de Jesus. Pode isto ser verdade? Será Fátima uma mentira? Ou é uma construção? O artigo procura analisar alguns dos elementos que fizeram do fenómeno o que ele é: a linguagem religiosa da época, marcada por medos e rituais; a oposição da imprensa republicana, que seria a maior divulgadora inicial do fenómeno; a linguagem anticomunista, num contexto de violentas perseguições aos cristãos; os anseios de paz, presentes desde o início e que atravessaram o século, até à Guerra Colonial; e o discurso dos papas que, em visita ao santuário, destacaram ideias diferentes das que estavam presentes no discurso fundador – culminando no Papa Francisco que, em 2017, criticou mesmo a ideia da «santinha» a quem se pedem favores a baixo preço.

Highlights

  • Nos últimos anos, mais de cinco milhões de pessoas têm passado anualmente por Fátima, tornando o santuário português um dos mais concorridos do mundo e fazendo dele um dos mais importantes destinos do país, a par de Lisboa e do Algarve

  • Isso acontece por duas vias: em primeiro lugar, o fenómeno é uma possibilidade de o povo católico afirmar a sua religiosidade, contra a afirmação anticatólica e a destruição que o novo regime começara a fazer de uma boa parte do aparelho eclesiástico; por outro lado, ao decidir-se pela entrada de Portugal na Grande Guerra, no final de 1916, muita gente viu em Fátima a possibilidade de um socorro divino em favor da paz e dos jovens que tinham partido para a frente de combate

  • Fátima foi, como se viu, várias coisas diferentes: uma construção beata e devocional, fundada no medo e na resignação; uma fonte de esperança na possibilidade da paz, num país dilacerado pela participação na I Guerra Mundial e, mais tarde, na Guerra Colonial; uma oposição à ideia de retirar a dimensão religiosa da vida das pessoas; um discurso anticomunista, reagindo às perseguições aos cristãos; um fenómeno aproveitado pelo Estado Novo e de que o regime autoritário também se serviu para vincar uma espiritualidade mariana centrada na resignação; a acentuação da ideia da paz, sublinhada pela peregrinação do Papa Paulo VI; e um discurso pedagógico e moderno, que tenta purificar a linguagem mais usual de muitos peregrinos

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Summary

Introduction

Mais de cinco milhões de pessoas têm passado anualmente por Fátima, tornando o santuário português um dos mais concorridos do mundo e fazendo dele um dos mais importantes destinos do país, a par de Lisboa e do Algarve.

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