Abstract

O objetivo deste artigo é descrever a coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP), variedades faladas em São Tomé e Príncipe, detectando os segmentos licenciados nesse constituinte e analisando o processo de apagamento. Baseados em um corpus com 20 entrevistas de fala espontânea, realizamos análises acústicas e quantitativas, nas quais utilizamos o modelo estatístico de regressão logística para verificar quais variáveis linguísticas são relevantes para a ocorrência do apagamento. Verificamos que a coda, no PST e no PP, pode ser preenchida, por múltiplas realizações fonéticas de um rótico, uma sibilante, uma lateral ou uma nasal subespecificada (BALDUINO, 2018) – como no português brasileiro e europeu (CÂMARA JR., 1970; MATEUS; D’ANDRADE, 2000). Tendo por foco /r, S, l/, detectamos a presença de alguns processos fonológicos que têm a coda como domínio, como apagamento, velarização e vocalização, os dois últimos característicos à lateral. Tais fenômenos, além de justificarem uma concepção hierárquica para a sílaba, sugerem que a coda é uma posição frágil, dentro dessa estrutura, no PST e no PP, estando propícia a apagamentos e alterações estruturais (SELKIRK, 1982), fato que culmina numa alteração do template silábico para a estrutura CV. Todavia, os dados também indicam que, em decorrência (i) das diferentes proporções de apagamento das codas investigadas; (ii) da diferença entre o conjunto de variáveis relevantes para o apagamento de /r, S, l/; e (iii) dos diversos processos que os acometem individualmente, a resolução atribuída à debilidade da coda tende a variar segundo a natureza de cada segmento.

Highlights

  • Este estudo tem como propósito discutir o padrão consonantal licenciado em coda, focando nas consoantes /r, S, l/, em duas variedades do português falado em São Tomé e Príncipe (STP): o português falado em São Tomé e o português falado em Santo Antônio do Príncipe, doravante Português Santomense (PST) e PP.1 Para tanto, descrevemos os segmentos licenciados em tal constituinte e examinamos o processo de apagamento, uma vez que tal fenômeno promove reestruturação do template silábico e pode ser um argumento para confirmar uma tendência tipológica ao padrão aberto CV no PST e no PP

  • Considerando, portanto, o ambiente multilíngue no qual o PST e o PP estão inseridos e compreendendo a carência de descrição linguística de variedades de português africanas, o intuito deste trabalho é descrever o preenchimento consonantal da coda do PST e do PP, focando, além disso, em processos fonológicos que tenham como domínio esse constituinte, de modo que possam (i) justificar a presença de sílabas do tipo CVC nessas variedades; (ii) abrir margem à discussão sobre um padrão silábico aberto CV menos marcado; e (iii) propiciar comparações futuras com o português brasileiro (PB), o português europeu (PE) e outras variedades de português na África, como o

  • Distintamente do PST, a variável mais relevante foi a posição do segmento na palavra final: P.R. .65 e medial: P.R. .35, seguida pela tonicidade átona: P.R. .60 e tônica: P.R

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Summary

REVISTA DA ABRALIN

A coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP): aspectos gerais e processos de apagamento. O objetivo deste artigo é descrever a coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP), variedades faladas em São Tomé e Príncipe, detectando os segmentos licenciados nesse constituinte e analisando o processo de apagamento. Nesse caso essa regra é o apagamento do segmento consonantal em coda, assim, foram realizadas seis análises, sendo uma para cada um dos três segmentos consonantais: o rótico, a sibilante e a lateral nas duas variedades do português em observação. Primeiramente, demarcamos, com base no corpus, a constituição consonantal da coda no PST e no PP e, posteriormente, sugerimos uma caracterização geral, tanto fonológica, como fonética, das consoantes alvo nessa posição, examinando, paralelamente, alguns processos fonológicos que promovem reestruturação silábica como a ressilabificação e, principalmente, o apagamento segmental. Como pode ser observado no quadro 1, há, foneticamente, diferentes realizações na coda, havendo variação em relação ao ponto de articulação e, no caso da sibilante, ao vozeamento

Coda Nasal Lateral
Posição Classe gramatical Contexto precedente
Classe Gramatical
Átona Tônica
Plural Singular
Medial Final
Findings
Proporção de apagamento
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