Abstract

A obra literária não é uma fala sobre a realidade mas um modo de falar a sociedade. Com base nessa premissa etnográfica, o texto explora a relação simbólica da literatura com alguns momentos da história cultural e política brasileira desde o Império. O objetivo é analisar a mudança de significado da malandragem ao longo do tempo destacando suas aproximações e diferenças com outras categorias do imaginário cultural e político brasileiro como o favor, o jeitinho, a corrupção, que embora vistos com desconfiança e descredito hoje, ainda assim revelam de forma densa e critica aspectos significativos da realidade contemporânea. Assim a “arte da malandragem”, entendida como um conjunto de representações e práticas simbólicas, constitui uma narrativa de longa duração na qual se revela o drama de uma sociedade cuja história oscila entre a farsa e a tragédia.

Highlights

  • O interesse pelo tema da malandragem no momento em que os escândalos de corrupção, então espetacularizados nos meios de comunicação tomam conta do país, denuncia mais do que uma farsa senão um trágico parentesco de origem que reverbera estruturalmente como gênero de drama social que atravessa nossa história desde ao menos o “tempo do rei”[2], e que se acentua no curso da história republicana

  • The “art of trickery” between burlesque and tragedy - a long-lasting dramatic narrative. This literary work is not a speech about reality, but a way of speaking to society. Based on this ethnographic premise, the text explores the symbolic relationship between literature and some moments of Brazilian cultural and political history since the Empire

  • The objective is to analyze the change in the meaning of trickery over time, highlighting its similarities and differences with other categories of Brazilian cultural and political imagery such as favor, the Brazilian way, the corruption, which viewed with suspicion and discredit today, still reveal in a dense and critical way significant aspects of contemporary reality

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Summary

Jeito Corrupção

O esquema ilustra a dificuldade em se definir o “jeitinho” no universo social brasileiro, pois “o que é e o que não é jeito varia bastante”, adverte-nos. 33): “Não existe um elemento que pudéssemos assinalar cuja presença configuraria uma situação que fosse definida por todos como jeito”. O jeitinho se localiza em meio às categorias afins “favor” e “corrupção” estabelecendo um continuum entre elas à medida que se aproxima ora positivamente de uma, ora negativamente de outra, convivendo muitas vezes. À primeira vista, trata-se de um movimento interativo/conflitivo que varia no espaço e no tempo, muito embora o “favor” apresente maior sintonia com os sistemas de características tradicionais e a “corrupção” se aproxime dos sistemas sociais contemporâneos individualizados. A depender da situação, isso não impede de se ver a combinação desses expedientes em um mesmo personagem ou mesmo ambiente social simultaneamente. Fernandes (1981), Chico Buarque de Holanda (1980) e Fernando Jorge (2003), a exemplo dos ritos de passagem, uma narrativa dramática sobre a mudança de status do malandro e da malandragem ao longo do tempo, protagonizada pelos personagens Leonardo Pataca, Max

Overseas e Piranha da Fonseca
Como também adverte André
Álcool nem cama Boca beijada É mulher na lama
Seguindo a análise de Fernando
Parafraseando com Gilberto
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