Nesse trabalho, procuro entender como meus interlocutores Hupd’äh relacionam conversas sobre sonhos e eventos ocorridos durante uma viagem que fizemos à /Paç Pög/, “Serra Grande”. A questão da relação entre sonhos e deslocamentos cósmicos vem sendo amplamente discutida tanto em estudos sobre os povos ameríndios, como para povos da melanésia. Chama a atenção o modo como tais itinerários oníricos levam a vivências em diversos planos cósmicos e também em cidades grandes, onde encontros, diálogos e interações com militares, missionários, comerciantes. Tomando como referência a teoria dialógica da enunciação de Bakhtin (1981) e a abordagem centrada no discurso de Urban (2000), procuro mostrar como, nas interações verbais entre os viajantes sobre sonhos, processos intersubjetivos de instituição de sentidos vão emaranhando as situações do percurso àquelas vividas oniricamente através de um modo específico de indexicalização. Em que medida a justaposição ontológica da Cidade das Onças que emerge desses diálogos sobre sonhos vai delineando uma percepção crítica quanto aos acelerados processos de mudança, expropriação e violência suscitados pelos cada vez mais constantes deslocamentos para a cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM)?
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