Abstract
No romance Antes de nascer o mundo, de Mia Couto, o personagem Silvestre Vitalício realiza um autoinsílio (Can, 2020) motivado por um profundo desejo de esquecimento. Assolado pelo sentimento de culpa diante do suicídio de sua esposa, a busca pelo esquecimento, além de intentar um apagamento da memória traumática, impõe aos seus filhos um deslocamento forçado para o interior do país, onde ergue uma pátria imaginada, Jesusalém. Nesse sentido, o romance enseja diversas discussões acerca do deslocamento exercido em busca deste esquecimento e dos meandros impostos por Vitalício para anular o passado de seu imaginário e das crianças. Entretanto, como postula Jeanne Marie Gagnebin (2009), existe uma retroalimentação entre os processos do lembrar e do esquecer, de forma que, apesar do intuito do pai, esta anulação completa não será alcançada. Mas, se nutrir uma vida sem recordações no insílio era utopia, com a necessidade do regresso à antiga casa, a memória atuará de formas distintas a esses personagens, tendo como ponto comum a dificuldade de permanência e (re)inserção neste espaço. Dado o exposto, interessa-nos investigar o deslocamento de isolamento e as razões pelas quais o regresso surge impossibilitado para os personagens da narrativa. De modo mais específico, procuramos entender ainda como se costura metaforicamente o drama deste núcleo familiar com o drama da nação moçambicana frente ao conflito civil, sobretudo pela perspectiva do regresso de memórias propositadamente silenciadas.
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