Abstract

A partir de 1521, Gil Vicente abandona seu teatro devocional, para se dedicar a motivos alegóricos e profanos, inaugurando nova fase em sua carreira. Movido pela leitura dos romances de cavalaria que se espalhavam pela península, o dramaturgo compôs uma série de pelo menos quatro peças dedicadas a D. João III, cujo tema central (ou circunstancial) é o disfarce de um príncipe nas classes baixas, junto ao posterior desvelamento de sua natureza nobre. Partindo de um corpus específico do teatro vicentino (as peças Rubena, Viúvo, Amadis de Gaula e Dom Duardos), o presente trabalho busca elucidar os motivos históricos que percorrem o tema do ‘príncipe disfarçado’, considerando o programa de elogio da monarquia, proposto por Gil Vicente, bem como uma análise da natureza do amor humanista, veiculado por poetas e filósofos do quinhentismo. Entende-se que o disfarce nas classes baixas revela a essência aristocrática do cortesão mas também uma experiência ritualística no percurso do amor espiritualizado.

Highlights

  • From 1521, Gil Vicente renounces his religious theater to dedicate himself to profane and allegorical motifs, beginning a new stage in his career

  • Em 1586, em Lisboa, publicou-se a segunda edição da Compilação de toda las Obras de Gil Vicente, por André Lobato, embora sofrendo as rasuras da Inquisição, pelo menos a tragicomédia Don Duardos contou com uma didascália adicional que, em muitos sentidos, pôde iluminar os propósitos do autor à época de sua composição: uma carta a D

  • Frente à dimensão descomunal dos romances que lhe serviram de repertório, Gil Vicente logo entendeu que a ação dramática era arte nova e diversa: tudo deveria ser condensado, e, na ânsia de evidenciar uma face específica da matéria cavaleiresca, o dramaturgo “[...] desdenha os feitos heroicos para privilegiar as aspirações emocionais” (Álvarez-Sellers, 2007, p. 163), ou, como esclarece Aníbal Pinto de Castro (2003, p. 23):

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Summary

Introduction

From 1521, Gil Vicente renounces his religious theater to dedicate himself to profane and allegorical motifs, beginning a new stage in his career. A julgar pelas hipóteses de Walter Cohen (1985), acima mencionadas, o passeio temporário dos nobres pelas classes baixas, a modo de fingimento e dissimulação, adquire no teatro romanesco de Gil Vicente uma revelação retórica: mesmo disfarçada na veste de pastores rústicos, a aristocracia deixa invariavelmente entrever o seu gesto nobre, não por ostentação ou contradição do disfarce, mas porque não é capaz de ocultar uma identidade que só se esconde para, uma vez desvelada, mostrar o que realmente é.

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