Abstract

O senso comum dá-nos motivos para acreditar que a identidade dos seres vivos naturais é diferente da identidade dos artefactos. Alegadamente, a identidade dos artefactos está dependente da forma que lhes é atribuída pelos seus criadores e não lhes vem de dentro, não é imanente. Digamos que é esta a distinção que, em geral, se presume entre “corpos vivos organizados” e “corpos artificiais organizados”. Ao presumir um ato construtivo humano, o corpo organizado artificial recebe de fora o seu princípio organizador e o que define o seu uso. As obras de arte contam-se entre estes objetos assim como os instrumentos. No século XIX, algumas descrições sobre as manufaturas tinham chegado a uma definição de máquina como um corpo organizado dotado de moção interna, colocando assim o problema do estatuto das máquinas entre os artefactos. Não se estranha que um dos problemas recorrentes nas discussões filosóficas atuais sobre a técnica e a arte seja o do estatuto da dependência mental, intencional, dos artefactos. Essas discussões demonstraram que a dependência mental não pode ser avaliada sem clarificar a comunicação. Pode assim objetar-se aos autores exclusivamente preocupados com o tema restrito da intencionalidade da dependência mental o esquecimento da orientação comunicativa da produção, manual ou industrial, e do seu destino social. Com o presente estudo pretende mostrar-se como a herança platónica da mimésis, exemplificada com as “três camas” de República X, 597 b e ss., embora supondo uma dimensão comunitária, restritiva, do fazer técnico, está presente nos pressupostos de algumas versões teóricas modernas da técnica, da produção industrial e da arte. Clarificam-se as noções do artífice como produtor para a comunidade, do artefacto e da máquina na indústria para identificar os contrastes entre formas históricas distintas de compreender o fazer técnico e as correspondentes ressonâncias semânticas e teóricas. Seguidamente, caracteriza-se o discurso da crítica cultural, representado em alguns textos de Walter Benjamin, Theodor Adorno e Herbert Marcuse, como uma orientação teórica conservadora frente à autonomia da comunicação na modernidade, à expansão da produção industrial automatizada segundo diagramas e a sua aplicação aos produtos da arte. À luz de um escrutínio dos transmorfos da arte modernista, particularmente no DADA, revela-se como a arte explorou as colisões morfológicas resultantes da combinação entre motivos orgânicos, artísticos tradicionais e industriais para pôr a comunicação no centro do fazer artístico, desafiar a intencionalidade do autor e potenciar novas situações estéticas. O alcance das atitudes reativas perante o moderno, que o descrevem como unidimensional e redutor, fica assim limitado. Indo ao encontro das várias dimensões da remarcação do mercantil e do artístico nos transmorfos da arte conceptual, conclui-se este trabalho com a tese de que a comunicação artística, como sobrecodificação de vários media, tem a faculdade de redimensionar os emissores, destinatários e mensagens, mesmo quando tem lugar em meios de difusão estandardizados ou mercantilizados.

Highlights

  • Edmundo Balsemão Pires some texts by Walter Benjamin, Theodor Adorno and Herbert Marcuse, is depicted as a conservative theoretical orientation towards the autonomy of modern communication, the expansion of automated industrial production according to diagrams and its application to art

  • Through a scrutiny of the transmorphs of modernist art, the DADA’s transmorphs, it is explained how contemporary art has explored the morphological collisions resulting from the combination of organic, traditional artistic and industrial motives in order to move communication to the center of the artistic making, challenging the intentionality of the author and developing new aesthetic situations

  • Meeting the various dimensions of the remarking of the mercantile and the artistic in the transmorphs of conceptual art, I conclude this work with the thesis that artistic communication, as overcoding of various media, has the ability to redesign the senders, recipients and messages, even when it takes place through standardized or commercialized media

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Summary

Automaton

Relativamente ao sistema de fins e à otimização da relação meios­‐fins, o ideal da máquina no automaton representa o ajustamento das dimensões causal, social e bio psíquica no design da estrutura das operações com capacidade para se reproduzir no tempo. Babbage e do editor Charles Knight que, em 1831, da sua pena, tinha publicado The Results of Machinery, em 1835, Andrew Ure, um estudioso e atento observador das manufaturas inglesas, publicou The Philosophy of Manufactures, Babbage, On the Economy of Machinery and Manufactures, 216 e ss. Segundo este ideal da perfeição tecnológica, a intencionalidade do sujeito trabalhador e dos auxiliares da produção deve ser neutralizada por uma ciência aplicada da automação integral do trabalho industrial. A. Ure antecipa a ideia de que a fábrica não é uma unidade estritamente mecânica, mas, graças à sua perfeita consumação no automaton, além da “mecânica” inclui uma dimensão “moral” e outra “comercial”. As ideias desenvolveram­‐se em meio industrial e operário e, aqui, ambicionavam realizar um “coletivismo mecanizado” mediante uma reforma da “cultura proletária” em que homem e máquina estariam perfeitamente integrados, mas segundo as necessidades das moções e endentações das máquinas e do planeamento das séries produtivas

Artífices e Artefactos
Tecnologia e causalidade social
Nascimento de um género
Crítica da cultura popular como protesto contra a reificação pelos media
Crítica e racionalidade
Máquinas Celibatárias
Crise morfológica da arte e modernismo
Máquinas e Transmorfos DADA
O chocante
Metacomunicação
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