Abstract
A tragédia Antígona de Sófocles costuma ser lida na Modernidade a partir de uma contraposição entre valores e perspectivas defendidos pela personagem homônima e aqueles privilegiados por seu tio e governante de Tebas, Creonte: oîkos [lar] / pólis [cidade]; feminino / masculino; religião / política; leis não-escritas / leis escritas; etc. Algumas leituras contemporâneas, inclusive, chegam a propor uma compreensão positiva das atitudes de Antígona, por oposição àquelas assumidas por Creonte (caracterizadas como negativas). No presente artigo, avanço uma interpretação que se baseia numa leitura filológica da peça — informada ainda por estudos antropológicos atentos a questões de gênero e a certas práticas socioculturais — a fim de problematizar esse tipo de tratamento dicotômico simplificado. Pretendo indicar que existe muito de Antígona em Creonte e vice-versa, argumentando em prol de uma compreensão mais atenta às nuances de caracterização dessas personagens, assim como da reflexão trágica de Sófocles: o que se encontra em jogo aqui não é uma solução simples para os dilemas da existência, mas uma problematização da condição humana, dividida entre família e cidade, entre feminino e masculino, entre compromissos religiosos e políticos, esforçando-se por existir.
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